quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Paternidade

Quando meu filho estava na barriga da mãe, eu ainda não tinha como sentir a plenitude do sentimento. Ela sim, já que o carregava 24 horas por dia e estava em contato eterno, dessa forma, desenvolvendo um laço fortíssimo com o bebê.
Eu apenas dava alguns beijos na barriga, mesmo porque a nossa relação "homem e mulher" havia chegado ao fim.
Durante a gravidez, tive vários momentos de incertezas, duvidava se o amaria como deveria, se eu seria um bom pai, enfim, todas as dúvidas se relacionavam com o que eu seria capaz de oferecer ao meu filho.
Sempre detestei choro de criança, sempre tive impaciência com atitudes que acabassem com o meu sossego e temia por ser um pai severo ou chato.
No fundo, isso já era a minha vontade de ser o melhor pai do mundo para meu filho, mas eu ainda não enxergava desta forma.
Depois de um momento complicadíssimo da gravidez, no qual havia o risco de perdê-lo e eu não podia nem sequer chorar, para não piorar o sofrimento da mãe, Gabriel conheceu o mundo aqui fora no dia 10 de fevereiro de 2003 às 23h43.
Ao vê-lo chorando, magro demais, com uma boca enorme e a mãe, completamente sedada, arregalar os olhos como se me dissesse “Márcio ele está vivo!”, tive uma sensação única na vida. Uma vontade de chorar por diversos motivos ao mesmo tempo. Queria tocar no meu próprio filho, mas eu apenas o olhava perplexo e ao mesmo tempo tentava acalmar a mãe.
Lembro quando o médico o colocou de frente para a mãe e tive a nítida impressão, mesmo sabendo que não havia como, que ele olhava para a mãe, como se a reconhecesse.
A partir daí eu comecei a refletir todos os meus atos e conforme Gabriel cresce e aprende novas coisas, eu analiso cada atitude minha, sempre buscando a perfeição.
Lógico que tive momentos ruins com ele, gritos, brigas, castigo e palmadas, sou um humano lotado de erros, mas a minha reflexão após cada ato deste tipo, me faz ser melhor a cada reencontro com ele.
Hoje entendo que ser pai não é somente educar da forma que você foi educado, mas sim, avaliar tudo que você aprendeu e repassar somente o que há de bom. O que não for, que fique para trás.
Quero ser o pai que não tive, amigo, companheiro, dando limites sem valorizar uma hierarquia estúpida, afinal quando eu erro, permito que meu filho também me coloque de castigo, quero ser alguém que explique a verdade e não invente estorinhas melhores de se entender, que seja honesto e sincero para que no futuro receba do meu filho um amor completo, sem nenhum rancor ou mágoa.
Agora ele tem três anos e ainda não sei como explicar que o mundo belo que ele vive não existe, que as pessoas são ruins por natureza, que ele vai sofrer ao longo da sua estrada decepções, tristezas, traições, paixões não correspondidas, que isso tudo é a forma que a vida encontrou para que possamos aprender e adquirir experiência.
Tenho vontade de afastar tudo de ruim que se aproxime dele, não como um protetor excessivo, mas como um pai que ama incondicionalmente o filho. Sei que não posso fazer isso, pois ele tem uma estrada a seguir e eu não posso interferir, mas no fundo é tudo que eu gostaria de fazer.
Gabriel me despertou sentimentos e convicções que não conhecia e por isso eu sou grato a ele.
Nesse último sábado, véspera do Dia dos Pais, recebi desenhos, lembrancinhas do colégio feitas pelos professores e uma caixa de ferramentas comprada pela mãe, na qual ele colou os dizeres “Pai Amo Você”. Tudo isso me emocionou demais, pois pela primeira vez ele me presenteia com algo, o que me fez chorar e ele, coitado, não entendia como eu chorava por ganhar presentes. Num ato de carinho ele me abraçou perto da esquina da sua casa e me olhando com ar de preocupação, tentava me consolar.
Expliquei que meu choro era de felicidade e espero que ele tenha entendido isso.
No domingo eu disse que adorei os presentes, mas que ele próprio é o meu presente eterno do Dia dos Pais.
Agora eu sei o sentido verdadeiro da palavra “paternidade”.

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2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Poxa, Márcio...Bonito texto...Bonita sua relação com seu filho...

9:48 PM  
Anonymous Anônimo said...

Esse bicudo arranca lágrimas fácil demais... De felicidade, claro. :´)

10:18 PM  

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