terça-feira, 1 de agosto de 2006

Biblioteca Nacional

Que acesso difícil à informação!
Ao entrar na Biblioteca Nacional, tive que primeiramente me identificar.
Se eu não tivesse um documento sequer, não poderia ler.
Depois da identificação, revistaram o meu caderno a procura de papéis soltos, para não dar nenhum problema na minha saída.
A seguir me proibiram de usar uma caneta e fui obrigado a comprar um lápis. Se eu não tivesse mais que o dinheiro da passagem, não poderia ler.
Próximo passo, um tiro no escuro. Procurar o assunto de meu interesse pelo computador, sem a possibilidade de folhear e decidir o que quero ler. Se eu não soubesse usar o computador, não poderia ler.
Continuando a sabatina, tive que preencher uma pequena ficha com o nome do autor, o nome da obra, o volume (se houvesse), meu nome, meu endereço, meu estado, minha cidade, minha nacionalidade, meu grau de instrução, a data da consulta e o número do meu crachá, ufa!
E cada ficha dessa para cada livro, sendo que, não posso pegar mais que dois por vez. Se eu não tivesse tempo disponível, não poderia ler.
Tudo isso para apenas consultar no local, uma vez que não posso tirar uma fotocópia e muito menos levar algum livro para casa. Ainda bem, porque se pudesse sair de lá com algum livro em punhos, teria que deixar a minha mãe como garantia.
Após cinco minutos olhando algumas pessoas lendo e outras, na mesma situação de espera ansiosa em que me encontrava, resolvi escrever este pequeno texto.
Já se passaram mais dez minutos e o livro que escolhi não chegou. Será que eu escolhi algo que não poderia escolher? Ou será que escolhi algo de difícil acesso? Quem sabe eu tenha escolhido uma obra rara, que virá acompanhada do exército brasileiro.
Mal eu acabo de escrever a frase anterior e o meu livro chega. Ainda bem, porque agora me dei conta que estou gastando o único lápis que tenho e para piorar, não tenho nenhum apontador de lápis. Se este lápis gastasse a ponta, teria que comprar outro. Será que exigiriam que eu preenchesse algo para sair da sala de leitura em busca de um novo lápis? Será que teria que recomeçar o processo todo? Será que permitiriam uma pessoa comprar dois lápis? Talvez fizessem um interrogatório, para me questionarem como gastei o lápis antes do meu livro chegar. Imagine se pegam este papel, que contém uma crítica ao sistema deles. Juro por Deus que se esse lápis gastar o ponta, eu volto para casa.
Parece piada, mas ao folhear o livro, percebi que não tem exatamente o que procuro. Lá vou eu para o computador recomeçar o martírio. Se eu não tivesse paciência, não poderia ler.
Que acesso difícil à informação!

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