terça-feira, 29 de agosto de 2006

Coerência

Tento sempre ser uma pessoa completamente coerente e quando me percebo não sendo, sinto uma pequena revolta. Um erro que me incomoda profundamente.
Esta obsessão me faz buscar a mesma atitude em outras pessoas, ainda mais quando estas pessoas de alguma forma entram na minha vida.
Tentar entender o que se passa na cabeça de alguém é uma tarefa inútil, pois há muitas variáveis envolvidas e, em muitos casos, a própria pessoa não se entende como deveria. Nem que seja o mínimo para poder estabelecer relações com os seres humanos ao redor.
Só que eu tenho tendência a buscar esse entendimento. Por que? Afinal de contas se eu já sei que isso é uma tarefa inútil, não deveria agir assim.
Deveria aceitar o que é dito para mim, seja o que for, mesmo que não tenha a mínima coerência, porque é isso que desejam que eu aceite e não há o que questionar. Se eu não entendo é um problema meu.
Talvez a verdade seja ruim e queiram me poupar. Ou então, a verdade seja ruim para quem me diz. Pior, talvez nem exista verdade alguma. Como vou saber? Quem vai me dizer? Como ter a certeza? Não há nada a fazer, isto sim é um fato imutável.
Acontece que meu masoquismo intelectual me tortura aos poucos. Uma auto-flagelação cerebral que busca respostas, hipóteses, suposições e não me satisfaz nunca.
Já li tanta coisa sobre a noção de “verdade”, tantas discussões, tantos debates, tantas vezes percebi que essa “verdade” é apenas um ponto de vista e que nem sempre é absoluta. Depende de circunstâncias, interpretações, informações, experiências de vida e no final das contas, cada um tem a sua própria forma de ver a tal “verdade”. Então o que eu faço aqui? O que tento entender? O que busco saber? Se essa “verdade” é individual eu tenho somente como saber a minha e não a de outra pessoa.
Mas vamos supor que eu, por algum milagre espiritual ou avanço tecnológico leia na íntegra os pensamentos da pessoa que não vejo coerente. Eu leio, aprendo, estudo e daí? O que eu faria com a informação? Eu mudaria o resultado final? Eu ficaria mais feliz? Eu traria ela de volta? Claro que não. Eu apenas saberia o que não é para saber, pois se fosse para eu saber, eu já saberia.
De qualquer forma, eu permaneço com as minhas questões colocando meu cérebro para funcionar. Um exercício que me ajuda a desenvolver o raciocínio e a capacidade de buscar novas soluções. Talvez isso um dia me deixe rico, caso eu me torne um empresário das boas idéias ou das soluções impossíveis. Quem sabe não seja mais vantajoso do que tentar entender o que acontece atualmente.
Quando um furacão passa, nós temos que procurar abrigo e não tentar entender, senão os ventos nos carregam. Eu estou justamente fazendo o oposto. Estou deixando esses ventos me levarem para algum lugar, pelo simples fato de ter tentado entender.
O texto está ficando grande para ser lido na internet e eu continuo tentando entender. Acabo de perceber o que os ventos me fazem, mas eu não agarro em nada e continuo voando por aí. Quando vou aprender? Quando vou sossegar? Quando vou viver sem tentar entender?
Digo sempre aos que me pedem conselhos o que deve ser feito, mas não é o que eu exatamente faço. Eu cometo erros e, numa atitude egoísta, me apego a eles e vou repetindo, repetindo, repetindo...
Se sou apenas um amigo para alguém que não quer um relacionamento, por que não será a minha boca que ela buscará novamente quando quiser um beijo? Não ofereço perigo dela se envolver.
Se sou apenas um amigo para alguém que não quer um relacionamento, por que não será meu corpo que ela buscará quando quiser prazer? Não ofereço perigo dela se entregar.
Se sou apenas um amigo para alguém que não quer um relacionamento, por que não será minha companhia que ela buscará quando quiser um amigo. Não ofereço perigo dela se apaixonar.

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