sábado, 19 de agosto de 2006

Desabafo

Não quero aqui fazer uma crítica ou desenvolver um raciocínio acerca deste tema, o que será feito futuramente. O que eu quero é apenas desabafar o que está me incomodando há mais de uma semana.
Acho que comecei a entender a relação das pessoas com os preconceitos de um forma geral. Na verdade passei a acreditar que muitas pessoas não sabem o verdadeiro significado da palavra “preconceito”, dentro da gramática. Isso é um fator que colabora para que se faça uma confusão entre o que é gosto pessoal e um conceito pré-estabelecido, que repudia sem o prévio conhecimento.
O ser humano não é obrigado a gostar de tudo, muito menos gostar daquilo que não lhe acrescenta em nada. Somos livres para fazer nossas escolhas e vivemos sob o manto da democracia. Só que infelizmente as opiniões tem que ser afinadas com o senso comum, senão você é julgado de forma preconceituosa, como uma pessoa que possui preconceitos.
Antes de você ser conhecido por inteiro, suas opiniões despertam julgamentos e desta forma, você é acusado de ser alguma “coisa”.
Há pouco tempo fui acusado de ser um preconceituoso, na verdade, “a pessoa mais preconceituosa”, o que me deixou completamente perplexo devido a tudo que acredito, penso, falo e luto.
Numa atitude preconceituosa em relação à minha pessoa, recebi um rótulo, que na minha opinião, foi um dos piores já recebidos na minha vida.
Já fui acusado injustamente de várias coisas, por conta das amizades e pessoas do meu convívio, mas de “preconceituoso” foi a primeira vez.
Este episódio, além da perplexidade, ainda mais por ter sido dito justamente pela pessoa que eu mais gostaria que me conhecesse neste momento, me fez avaliar minhas condutas e tentar descobrir a veracidade dessa acusação.
Até o final da adolescência tive preconceitos sim, o que é normal para alguém que é criado num ambiente assim, mas soube avaliar tudo que me foi ensinado e repelir da minha forma de viver.
Um exemplo clássico era a minha aversão à MPB, coisa que mudou radicalmente após eu escutar os grandes mestres sem o escudo que me foi passado pela família.
Depois da adolescência resisti e combati qualquer forma de preconceito e não me restringi ao preconceito racial apenas. Nadei muito contra a maré por conta disso, tive inúmeras discussões, me afastei de gente preconceituosa e tenho escrito há mais de dez anos um trabalho sobre preconceitos.
Claro que devo ter atitudes que sejam semelhantes à preconceitos hoje em dia, como por exemplo, a falta de qualquer sentimento amigável com os americanos, mas apesar disso, não deixo de dar uma chance ao conhecer um americano, não deixo de escutar Hendrix e Joplin e, muito menos, deixo de visitar os Estados Unidos para ver minha mãe e meu irmão. Não os julgo por antecipação, ou seja, não os encaro com conceitos formulados anteriormente, ou melhor ainda, não os vejo com preconceitos.
Apesar da vida que escolhi, do que escrevo, do que componho, do que canto, do que procuro seguir, dos filmes que me marcam, das músicas que me tocam, dos ídolos que tenho, da forma que educo meu filho, das amizades que tenho, dos cabelos desgrenhados que cultivo de tempos em tempos, das roupas surradas que visto, dos locais que frequento, enfim, apesar de ser quem eu sou, recebi uma tarja preta.
Nenhum “elogio” conseguiu me ofender mais do que ser chamado de “o mais preconceituoso”.

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